Voltar ao Índice de Notícias Banqueiro indiciado é vestígio de um novo país
01/06/2016
JOSIAS DE SOUZA
Até bem pouco, nenhuma revelação abalava o prestígio de uma eminência empresarial no Brasil. Mesmo quando apanhados de mau jeito, os empresários continuavam fornecendo matéria-prima
às colunas sociais, publicando artigos nos cadernos de economia e distribuindo conselhos
a presidentes da República e ministros.
Ao indiciar na Operação Zelotes o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, a Polícia Federal
oferece mais um vestígio de que algo de muito novo sucede no país:
o braço punitivo do Estado tornou-se mais longo e menos seletivo.
Apura-se na Zelotes o pagamento de propinas para cancelar ou
abater dívidas lançadas pela Receita Federal. A Procuradoria já denunciou na mesma operação o dono do Banco Safra, Joseph Safra. O rol de indiciados, que já incluía gente como o presidente do Grupo Gerdau, André Gerdau Johannpeter,
é adensado agora por Trabuco e outros nove encrencados.
Considerando-se que a Lava Jato já levou à cadeia os barões da construção civil e
que o mais poderoso deles, Marcelo Odebrecht, faz uma delação que abalará os
pilares da República, já se pode dizer que a farra não está acabando apenas para os políticos. Aos pouquinhos, a elite empresarial brasileira também perde sua sua invulnerabilidade.
Até ontem, os contatos de Luiz Trabuco com o Estado
ocorriam nos palácios do Planalto e do Alvorada.
Era conselheiro econômico de Lula. Dava-se muito bem com Dilma. Reeleita,
madame convidou-o para chefiar o Ministério da Fazenda.
Agora, Trabuco defende-se noutras repartições públicas de cinco imputações:
corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de influência, organização criminosa e
lavagem de dinheiro. Sinal dos tempos.